Curto-conto: Elisabeth
Eu sempre fui um ser muito solitário. Filho único, órfão de pai e mãe, vivo a sós comigo mesmo nesse lar deixado a mim por herança.

- Elisabeth, eu me chamo Elisabeth.
Ditas essas palavras, Elisabeth esperou alguma ação de minha pessoa, mas não consegui proferir palavra alguma, estava caído de amores. Num ímpeto ela começou a acariciar-me e com suas enormes unhas perfurou-me o peito deixando o meu sangue derramar sobre seu leito. Após isso, beijamos-nos loucamente e ali mesmo nos amamos.
O dia amanheceu e eu podia sentir o peso de seu braço sobre meu corpo. Debrucei-me para beijar-lhe a face e quão assombrado fiquei: A bela Elisabeth estava morta! Seu corpo era gélido e apodrecido como num cadáver morto há dias...
Já faz cinco anos que isso ocorreu e ainda trago no peito a cicatriz deixada pela bela Elisabeth e o amor que só ela proporcionou-me".
Lynn Glommy
21/04/2009
Curto-Conto: Nos olhos de quem vê
Joana adorava fuçar o jardim da mãe no final da tarde. O cheiro dos miosótis misturado ao aroma do café que acabava de ser preparado lhe traziam uma aconchegável sensação de paz.
Quando se debruçava sobre o baixo muro de sua casa, Joana via o seu mundo que, segundo ela, acabava nas montanhas ao fundo.
Em um desse dias comuns, Joana perguntou: “Mãe, o nosso mundo é tão bom. Por que será que eles inventam aquelas mentiras nos noticiários?”.
A mãe de Joana não respondeu.
Lynn Glommy
05/02/2011
Curto-Conto: Joãozinho perguntador
Joãozinho não parava de perguntar. Tarde ou noite, Joãozinho não parava de perguntar.
Um dia, seu irmão mais velho já estava fadado com a situação e resolveu tapar a boca de Joãozinho.
Calado, o menino pensou: “Por que ele fez isso comigo?”.
Lynn Glommy
04/02/2011
Curto-Conto: Falha técnica
Faltavam alguns minutos para a largada da corrida anual de carrinho de rolimã da rua e Paulinho não continha o impulso de todo gordinho de nove anos em um momento de ansiedade: Comer.
Comeu tanto que acabou ficando mais pesado que o suportável para o veículo artesanal.
Vermelho. Vermelho. Vermelho. Verde.
Todos os carrinhos descem a rua em disparada, menos o de Paulinho. O peso do garotinho fez o carrinho emperrar na hora da largada. Irritado, o garoto gritou para a produção da corrida: “Quem foi o maluco que se esqueceu de abastecer?”.
Lynn Glommy
05/02/2011
Curto-Conto: Nada a dizer
Quando minha mãe morreu, dizia Philip, o meu pai só conseguiu dizer uma única frase: "Realmente, não há nada a dizer"...
Calou-se e seguiu em direção ao crematório.
Lynn Glommy
20/03/2011